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aflição

e às vezes a gente tá doente

num por dentro tão profundo

que mais parece sofridão

dói

mas não se sabe onde


e tem vezes que nem remédio tem

o tempo é que cura

a lágrima molha

e vai deixando a casca mole até cair


aí sai o pus

e o ruim

a coisa toda que tava apertando

azucrinando

tirando o sono

se esvai

e passa

e aí sara


mas fica lá magoado

tem marca

cicatriz

dói quando muda o tempo

fica ali na gente pra sempre


depois vira lembrança

fica guardado

fica de lado


mas num se esquece

e dói quando toca

dói lá dentro dos nossos escondidos

uma dor miúda

uma dor contida

que não mais perturba

mas que sempre incomoda


obra de 1967 - Tomie Ohtake

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