vivemos um tempo de profundas tristezas e pouquíssimas lágrimas...
é o árido dessa vida que resseca nossas entranhas e nos desfaz de nós
pois que na essência somos líquido e nele nossa existência persiste
nesse tempo de desgosto se impõe o silêncio
como se pudesse assim amenizar o ressequido de dentro no meio de cada dor...
mas o quieto não é calmaria, não é remanso, é medo
um temor tão grande que escondido na indiferença cabe, ainda cabe
e não passa esse tempo, ele se multiplica
se esparrama com suas curvas sem sentido
e nos assombra ou confirma que em nós não há pesar
apesar de buscarmos uma humanidade idealizada
às vezes desejada, mas não existente
e lastimamos em nosso luto constante
nessa amargura que não nos permite nem mais o choro...
assim nesse isolado que nos arranca afetos
nesse lugar que não tem descrição possível em qualquer língua
estamos inertes numa espécie de desespero contido
perplexos diante de absurdos mundos...
tempo esse que perdura
que se estende, que nos esvazia, que nos impede de definir quem somos
e que a todo custo nos faz seguir...
*a queda de Cabul foi a captura da capital do Afeganistão, pelas forças Talibãs em 15 de agosto de 2021.
um grave desastre para o povo afegão, que viverá sob um regime teocrático que reprime as liberdades mais básicas, castiga de forma desumana os dissidentes e se orgulha de oprimir as mulheres.