escondo no canto
do meu espanto
teu manto
teu quebranto
tua onipotência...
quero crer!
minhas virtudes transparentes
precisam de fundo
de margem
de compaixão...
meus vícios libertinos
querem privação e jejum!
minhas culpas evidentes
buscam calma
têm sede
derramam lágrimas
e pedem perdão...
quero perseverança!
quero acordar com o sol
engolir ar
deixar de lado a minha solidez
a minha certeza do nada
a minha capa ocidental
e a minha rara lucidez...
chega de prova
de prosa
de prozac
procuro a saída da razão...
quero encontrar
uns fracos
uns perdidos
uns condenados
um daqueles que não se entregou
que não fez acordo com terceiros
e que acreditou num outro dia...
quero conjugar meu temor
a simplicidade deles
dos bem-aventurados
dos puros d'alma
que por dádiva
estão sãos e salvos
limpos
prontos para entrar
e viver em qualquer paraíso...
foto: Michelangelo Buonarroti - teto da capela Sistina - criação de Adão (detalhe) - 1508-12