não tenho tido espaço
para longos parágrafos
meu texto, cada vez mais
se encolhe
se acomoda em linhas curtas
numa verticalidade
que busca estética
numa poética
de dor de corno
de balcão de botequim
minha métrica é banal
mas me engana
trapaceia
finge que tem cor
dissimulada
me trás carícias em seduções
velozes e efêmeras
astuta
me oferece rimas
cada vez mais ricas
de desejos
de abandonos
cálices de vinho
para os que vivem da retórica
e das dores do amor
sacana
me fez acreditar nela
me fez fechar os olhos
pra sentir seus lábios no meu peito
sentir seus beijos inundarem minhas mãos
e aí entreguei minha prosa caprichosa
que retocava com paciência
ao verso imprudente e ardente
esse que se perde um pouco
dentro da gente
vira pus
corrente
é indigente
procura canto
é vertente
derrama riso
lágrima
e em mim se tornou
urgente...
foto: tela Tomie Ohtake - sem título
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