inventário
- Cris Reis
- 28 de out. de 2024
- 1 min de leitura
não tenho em mim nada que possa dizer meu
é o meu pobre antagonismo nesse mundo tão capital
meu patrimônio é oco
sou melodramática demais para uma geminiana
me derramo
vazo
espalho
sou mulher
me encontro e me expando em você
que me invade
que me percorre
nos arredondamentos das minhas palavras
então, já que despojada de qualquer bem me encontro
vem aqui e deita no meu colo
que eu te conto das minhas andanças por aí
por Istambul
entre os minaretes dourados da grande mesquita azul
por Marrakech
nas sombras dos muxarabis da rua do mercado
nos desertos da Argélia
seguindo caravanas nômades em seus camelos
e pelos caminhos gelados que fiz às margens do Volga
contemplando coloridas catedrais
não tenho em mim nada que possa dizer meu
a pieguice da minha prosa é tão decadente pra esse tempo veloz…
minha riqueza é vã
sou visceral demais para uma geminiana
escorro
me entrego ao bem querer de um jeito tão profundo
quando o oxigênio só está na superfície
sou exagerada
desesperada
sou filha
irmã
sou a amante delirante envolvida no calor da tua boca
perdida no desejo de te possuir toda
teu corpo, minha casamata, abrigo do meu torpor
teu corpo, quase altar onde cumpro minhas promessas
e oferto ex-votos do meu prazer
não tenho nada em mim que possa dizer meu
porém tudo aqui quando você me abraça parece ser nosso