vivemos um tempo de profundas tristezas
e pouquíssimas lágrimas
é o árido dessa vida
que resseca nossas entranhas
e nos desfaz de nós
pois que na essência
somos líquidos
e neles nossa existência persiste
nesse tempo de desgosto
se impõe o silêncio
como se pudesse assim amenizar
o ressequido de dentro
no meio de cada dor
mas o quieto
não é calmaria
não é remanso
é medo
um temor tão grande
que escondido na indiferença cabe
ainda cabe...
e não passa esse tempo
ele se multiplica
se esparrama com suas curvas sem sentido
e nos assombra ou confirma
que em nós não há pesar
apesar de buscarmos
uma humanidade idealizada
às vezes desejada
mas não existente
e lastimamos
em nosso luto constante
nessa amargura
que não nos permite nem mais o choro
assim nesse isolado
que nos arranca afetos
nesse lugar
que não tem descrição possível em qualquer língua
estamos inertes
numa espécie de desespero contido
perplexos diante de absurdos mundos
tempo esse que perdura
que se estende
que nos esvazia
que nos impede
de definir quem somos
e que a todo custo
nos faz seguir...