às vezes as palavras me escapam
e não há como dizer nada
aí eu fico aqui de costas para o mar
pouco ligando para o céu azul-marinho do Rio
só esperando esse tempo passar...
fico assim de um jeito indolente e quieto
pouco me importando com o barulho
da festa que está rolando no terceiro andar
e ainda penso - aumenta o som!
as palavras andam fugindo de mim
e tudo parece em silêncio
então vejo filmes preto e branco às duas da manhã
e aqui de frente para o Cristo Redentor
continuo fazendo as mesmas promessas
e eu que nem sei nem rezar...
e juro
que vou parar de fumar
que vou fazer ginástica
dieta
e que vou te tirar da cabeça
te esquecer mesmo!
mas só amanhã
não, só segunda-feira
que é o dia de mudar a vida...
às vezes as palavras me abandonam
melhor assim não preciso pensar em nada
só numa maneira de esquecer
teus olhos negros
e tua boca carmim em mim...
e fico aqui desse jeito
o mesmo que você deixou
guardando os mesmos segredos
e as mesmas histórias
que não consigo nem mais contar...
as palavras se escondem de mim
e eu não tento dizer mais nada
só fico esperando que em mim aconteça
o grande desastre
o cataclismo
- então que venha o vendaval!
as palavras minguam em mim
parecem tão fracas e desérticas
e a cada dia se tornam mais patéticas e ridículas...
me sinto às vezes ridícula
eu e as minhas palavras
que se calam em mim
que me decepam
que me castram
e que me deixam só...