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preamar

sinto-me como um pedaço de mar

que se refugiou no teu continente úmido e quente

como uma lagoa de águas mansas e quietas

porém a minha natureza depende das correntezas

e isso me faz mudar e partir e chegar

por mais que o meu espelho d’água transborde

de simplicidade e beleza,

minha natureza são as vagas

e as espumas na arrebentação


existe em mim uma aflição,

uma necessidade de dizer não

àquilo tudo que agora me traduz equilíbrio

preciso de desalinho!

preciso da desordem da paixão!

minha natureza indica ventos

e mudanças de tempo

não quero só o céu claro

preciso das tempestades

para remexer o fundo

e revirar o lodo da areia


preciso desesperadamente

ainda me sentir tua

antes de mais uma mudança de lua

antes que a maré suba

e invada a nossa margem

antes que a força das ondas

destrua nossa paisagem

antes que meu leito sereno

deságue finalmente no mar

de onde eu vim

 
 
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