naquele meu passado cabiam
quase todos os meus projetos de futuro
lá estavam meus planos de um amanhã que não nasceu
e tantos e muitos desejos
desenhados nos papéis sobre a mesa do café
e aí teve um dia, aquele dia, eu me lembro bem
veio a vida e me impôs o hoje, o agora, o inegociável
e no imediato dela, como um vento forte
daqueles que dobram as amendoeiras
destelham casas e deixam dezenas de desabrigados
ela não poupou nem um dos meus sonhos
devastou tudo
sim, ela, a vida, plena e implacável
veio numa velocidade estonteante
e me jogou na rua da amargura
como num samba canção do Lupicínio
'nunca, nem que o mundo caia sobre mim'
e eu não tive como me acudir
‘o mar não tem cabelos que a gente possa agarrar’
era o mergulho
a falta de ar
a distância da praia
e eu mesmo na correnteza
sem rumo, sem porto
sem choro nem vela
sem qualquer expectativa de litoral
sabia que ainda podia nadar
e eu não ia me afogar...
músicas incidentais:
'nunca' Lupicínio Rodrigues | 'timoneiro' Paulinho da Viola e Hermínio de Carvalho
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