a terra escorre
perde o controle
expira sua violência
em turbilhão
em vendaval
e nossos corpos frágeis
não podem resistir
nem o concreto
nem o aço
nem os telhados
fincados nos pilares profundos
calculados pela matemática
pelos números dos homens
nem eles podem resistir
a terra verte
esgota
e nos céus cobertos de neon
ela revolta
sorve
envolve a vida em seus abismos
subverte
destrói o que ela não concebeu
e nossos corpos débeis
não podem combater
estamos aqui dependentes
das marés
dos ventos
das mudanças da lua
dos pontos no céu
nossa garantia seria a submissão
aos cursos dos rios
às copas das árvores
mas devoramos
invadimos
e precipitamos o fim
a terra espalha
são dádivas
nossa confirmação
nossa existência
perpetuação
Silêncio...
setembro 2005 - New Orleans - furacão Katrina